sábado, 17 de agosto de 2013

MÃE E FILHO (1997)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Português: Mat y Syn
Realização: Aleksandr Sokurov
Principais Actores: Aleksei Ananishnov, Gudrun Geyer

Crítica:

O ÚLTIMO PASSEIO
OU O ESPECTRO DA MORTE E DA EXISTÊNCIA

As pessoas não precisam de uma razão para viver,
mas morrem sempre por uma ou por outra.

Criação... és maravilhosa - diz, às tantas, uma das personagens. Na verdade, seja ela artística ou real, a criação é qualquer coisa de extraordinário, de transcendente. É assim numa relação entre mãe e filho e é assim nesta representação de Sokurov. Cada imagem é como um quadro pintado de fresco, borrado pela chuva... desfocado por uma lágrima... ou simplesmente distorcido pela dor e pelo aperto do coração.

Se Mãe e Filho tivesse cheiro, cheiraria a morte. Essa fatalidade, inevitável e por isso mesmo trágica, está omnipresente em toda a obra, sobretudo na atmosfera que se impõe, onde reina o silêncio e os sons do vento, das folhas, dos pássaros, dos trovões... No campo, profundamente isolados do mundo, o elo de sangue, o vínculo inexplicável, a entrega mútua. A dedicação extrema. O amor. Contemplamo-lo, consumindo o frio e o tempo, embebidos em compaixão. O filho com a mãe ao colo - gela-nos, tal imagem. É a inversão derradeira e natural dos papéis. O comboio passa como uma miragem - enquanto a mãe respirar, não passará disso: uma miragem, não haverá fuga ou recomeço. Há o medo da morte, mas há sobretudo o medo da solidão.

Os planos são longos e lentos. A beleza poética daquilo a que assistimos é tremenda; ao mesmo tempo, tão assustadoramente real. Só recuperamos o fôlego quando o filme finda. Qual doença ou promessa de adeus, é devastador. Uma obra-prima em todos os sentidos.


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